segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Relato de uma vida solitária.

 Depois que você vive uma vida de casada, você se esquece de como é estar só.

Sempre encontrar a pessoa lá, mesmo que sempre enfurnado no escritório ou no celular, mas estava lá.

Você sabia que tinha alguém ali.

Você sentava no sofá e ouvia alguém indo tomar banho ou falando ao celular.. você sabia que tinha alguém ali..

Você fazia a janta e colocava dois pratos, mesmo que não se conversavam, ou que iriam brigar, mas tinha alguém ali.

A vida de divorciada é boa, não posso reclamar. Tenho tudo que preciso, não me falta nada. Está tudo organizado, mas não tem ninguém me esperando..

Não faço janta as vezes, porque é sem graça ter que cozinhar só pra mim. Por causa disso faço janta uma vez na semana e sempre faço dois cardápios, congelo vários potes e vou comendo aquilo durante a semana. Confesso que no quarto dia, já não aguento mais.

Pela falta de hábito de cozinhar todos os dias, tenho cozinhado mal.. que é uma das causas principais que não sinto vontade de comer minha própria comida. Rsrs e ainda mais congelada kkkk.

Eu tenho o costume de sempre pensar o lado positivo de tudo o que me acontece.

E claro que eu faria isso com essa minha fase.

O lado bom disso, é não ser diminuída, nem rejeitada, não precisar me esforçar pra ser aceita. Eu simplesmente estou aqui. Por mim, pela minha casa e pelo meu cachorro, e claro, pelo futuro que eu ainda vou viver.

Talvez pareça triste ler todo esse relato.

Mas confesso que eu entendo alguns divorciados que bebem e saem o tempo todo.

Eu até gosto da solidão. Ouvir o silêncio, assistir um bom filme, comendo pipoca enquanto ouço o barulho da máquina de lavar fazendo seu trabalho.

Gosto da casa organizada sem ter roupas pelo chão, gosto da casa sempre com a louça lavada e quando tem louça, é sempre aquela minha xícara, uma colher e um pires... A cama só desarruma do meu lado, o outro fica intacto. Eu sempre olho o outro lado por alguns segundos e só consigo enxergar meu medo de ter que me relacionar versus ter que ficar sozinha pra sempre.

Mas eu gostaria mais da casa com mais barulho e mais gente, criança brincando e cantarolando, um parceiro que me abraçasse quando passasse por mim pela casa, que eu pudesse arrumar a mesa com direito a guardanapos bonitos enquanto experimentasse o sabor da comida feita por ele.. Ou até mesmo fazer como sempre fiz, esperar um bom marido chegar do trabalho com a mesa pronta e comida quentinha.

Saudades disso. Mas não sinto saudades da pessoa que eu dividia a vida e nem de como eu era tratada.

A verdade é que gosto de ser esposa. Gosto de cuidar da casa. Gosto de organizar um lar, ter a rotina de uma casa. Gosto de fazer receitas novas, de pensar em uma atividade legal para o casal, como filme ou ir em algum restaurante diferente.

Mas atualmente isso tudo virou saudades.

Me perguntei esses dias se eu ainda sabia cozinhar.

Eu me peguei desanimada parar arrumar a mesa..

Me peguei desanimada para fazer um simples macarrão e adivinha só?! Macarrão ficou tudo grudado.. mas comi mesmo assim..

Me peguei assistindo televisão mas olhando pra parede..

Me peguei pensando na vida..

E tentando encontrar o porquê eu merecia tudo o que eu vive..

Não encontrei palavras, nem porquês e nem ânimo.

Mas sigo, porque um dia isso vai virar história..

Eu sei que vou viver a vida que sempre imaginei.

Um gramado, criança andando de bicicleta, eu preparando um suco gostoso para o almoço e chamando todos para se reunir na mesa.

Tão simples, sinto saudades de coisas que eu nunca vivi.

A verdade é que sou grata, sei que esse período é importante pra mim.

Afinal trabalhar e fazer faculdade presencial e cuidar da casa, não é tarefa fácil. E sozinha, é bom lembrar.

Pesado financeiramente, mas dou conta. Não vejo a hora de tirar férias. 

Cheguei a um nível que tenho negado trabalho.

Dei graças a Deus por isso.

A vida é cheia de cores em fases diferentes né?!

Que bom que consigo ver lado bom em tudo.

O lado bom dessa minha fase é que estou retornando a sonhar.. 

Depois de vários anos tentando sonhar e não me deixando (explicando como acabavam com meu sonho: me desanimando, me desacreditando, falando que eu era sonhadora demais, rindo deles, falando que não era possível... E a lista é grande) depois de vários anos perdendo a alegria em sonhar, cá estou, me encontrando e me permitindo sonhar.. 

Sonhar pequenos sonhos, sonhos bobos, sonhos que eu nunca imaginaria sonhar um dia, sonhos grandes, enfim.


Obrigada Deus por me permitir estar e ser.

Agora vou voltar para minha cama bem arrumada e com lençol cheiroso que eu tanto amo dormir, ao som de chuviscos e gatos miando.